07/08/2016

As mulheres são mais influenciadas pelo cheiro dos homens do que pela beleza física deles

Há milhões de anos, na época em que os seres vivos tinham como representantes apenas organismos unicelulares e a reprodução sexuada não passava de mera troca de material genético por duas células morfologicamente iguais (isogamia), uma célula “escolheu” parasitar suas companheiras ao invés de compartilhar material genético, e dessa mudança de comportamento teve início uma cascata de eventos que mediou toda a mudança morfológica e a dicotomia comportamental entre os sexos como ocorre hoje.

Os sexos desenvolveram, ao longo desses milhões de anos de processo evolutivo, estratégias e contra-estratégias de seleção e conquista de parceiros românticos, todas elas tendo como plano subjacente o custo energético de se gerar e manter uma descendência. Às mulheres fica a incumbência de gerar gametas ricos em nutrientes, necessários para manter o embrião até que este encontre outra forma de nutrição, é dela também o ônus da gravidez e todas as suas dificuldades (hipertensão, diabetes gestacional entre outros), além disso, dependendo do caso, há ainda a necessidade do cuidado com o filho durante muitos anos após o nascimento. Para os homens, restou uma seara de investimentos menores. Seus gametas são pobres em nutrientes, o que permite que sejam constantemente renovados, ao contrário das mulheres, que têm um estoque de uso limitado. Não é raro também homens abandonarem famílias, deixando o cuidado exclusivo às mães. O que tudo isso nos diz é que os riscos de se escolher um parceiro errado ou ter uma gravidez infrutífera são muito maiores para mulheres do que para os homens, o que justifica o fato de que, dentre todas as outras características que diferenciem homens e mulheres, uma se sobressai no campo dos relacionamentos: as mulheres são muito mais seletivas do que os homens na escolha de um parceiro romântico.


Charles Darwin, em 1871, publicou A Origem do Homem e a Seleção Sexual, e já nesse livro relatava as estratégias sexuais sexo-relacionadas e mostrava como o investimento diferenciado na reprodução influencia nos padrões de escolha dos parceiros. A partir dele, o desafio foi descobrir quais eram as características que indicavam quem seria ou não um bom parceiro. Os padrões de características que são importantes na atratividade são muito influenciados pela cultura local e pelo o momento histórico que vive cada sociedade. Por exemplo, para a sociedade ocidental o IMC (Índice de Massa Corpórea) tido como atrativo é fluido com o passar dos anos, indo de mulheres com alto índice até mulheres magras e, mais recentemente, as mulheres esculpidas cirurgicamente. No entanto, uma característica que se mantém constante dentro dessa variação é a proporção cinturaquadril das mulheres, dividindo-se a medida da circunferência da cintura (medidos em centímetros) pela medida da circunferência do quadril (também mensurado em cm) o resultado deve estar em torno de 0,7.

"Há coincidência na avaliação de beleza e cheiro, as pessoas avaliadas como mais belas são também avaliadas como tendo o odor mais atrativo".

Com o objetivo de descobrir quais as características que evoluíram como sinais que indicam um parceiro de qualidade, David Buss liderou um estudo, em 1989, que foi realizado em 37 culturas diferentes. Dentre muitas características apontadas como desejado em um(a) parceiro(a), uma das que se manteve constante foi a preferência por idade. Nesse quesito os homens demonstraram que preferem as mulheres por volta dos seus 20 anos de idades e as mulheres se mostraram interessadas nos homens que fossem de 3 a 4 anos mais velhos do que ela própria. Evolutivamente as explicações para essas preferências seriam: por parte dos homens, a busca da idade onde as mulheres concentram seu maior valor reprodutivo, já que elas perdem qualidade reprodutiva após os 20 anos e têm uma queda acentuada após os 30 anos; e pelas mulheres, a busca de segurança nos relacionamentos, para si e para os filhos, um homem mais velho teria, teoricamente, mais instrução, maturidade emocional e mais recurso recursos, o que, segundo relatos, é procurado pelas mulheres.

Dentre as características físicas apontadas na pesquisa a simetria facial e corporal (reconhecida como beleza) está entre as mais importantes. Mas por que ela é relevante?

Após a puberdade, uma série de mudanças afeta os indivíduos. Entre as mais severas estão as mudanças na forma do corpo e as mudanças comportamentais sexo-relacionadas, agora os indivíduos estão aptos a reproduzir e passam a responder aos estímulos sexuais, segundo sua própria orientação sexual. Essas mudanças são mediadas pelos hormônios esteróides, tendo como principal representante a testosterona. Mas e a simetria?

Bem, o desenvolvimento satisfatório dessas características sob o efeito dos hormônios esteróides vão culminar com a apresentação, na idade adulta, de um corpo com baixa flutuabilidade de assimetria, quanto menor essa flutuabilidade, mais o indivíduo é reconhecido como belo e menos tendência a ser portador de doenças ele tem. No entanto, concomitante ao seu efeito de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, a testosterona ataca o sistema imunológico, o que pode enfraquecê- lo e torná-lo susceptível a ataques patogênicos. Se o indivíduo adoece, precisa gastar energia para se curar, energia essa que deixa de ser gasta no desenvolvimento das suas características adultas (prejudica a simetria), ou seja, se o indivíduo passa por essa fase e chega à idade adulta com características bem definidas (isso sendo mostrado pela sua simetria facial e corporal) significa que é portador de bons genes e por isso mesmo um bom parceiro.

"Mães reconhecem como mais agradáveis o cheiro dos seus filhos biológicos se comparados a filhos adotivos"

O Cheiro

Já avaliou o quanto a percepção dos odores é importante em nossa vida? Parando um segundo para refletir, será que aquele bolo de chocolate seria tão apetitoso se antes de prová-lo não percebêssemos o quanto seu cheiro é delicioso? Será que aquela visita à fazenda seria tão marcante se não fosse impresso nas nossas lembranças o cheiro do café recém coado ou do bolo de milho ainda no forno?

E quanto aos relacionamentos? Será que nos apaixonaríamos se não tivéssemos a capacidade de perceber o cheiro do outro? Será que o sexo seria tão agradável sem a percepção de cheiro? E o que o cheiro pode nos dizer?

Nos estudos comportamentais de escolha de parceiros, a percepção do odor foi deixada de lado por muitos anos. Devido a nosso maior apelo visual, ao desenvolvimento de uma capacidade de comunicação verbal elaborada e de um sistema cognitivo altamente complexo, mais a perda de receptores olfativos quando comparados a outros mamíferos, acreditou-se durante décadas que a influência dos odores era pouco importante na mediação comportamental de humanos. No entanto, no fim da década de 1970 um estudo com mulheres que moravam juntas e dividiam o mesmo espaço mostrou que os componentes veiculados pelo suor corporal são capazes de modular e até interferir na expressão hormonal em humanos.

Outros comportamentos foram atribuídos a percepção dos odores, por exemplo, mães reconhecem como mais agradáveis o cheiro dos seus filhos biológicos se comparados a filhos adotivos e estranhos. O pulso de liberação do Hormônio Luteinizante (LH), responsável pela regulação do ciclo menstrual e pela ovulação nas mulheres sofre influência da presença de homens ou de mulheres lactantes convivendo no mesmo ambiente, podendo ser, o ciclo menstrual, encurtado ou alongado permitindo assim a possibilidade de uma gravidez. O estímulo emitido pelos homens e mulheres lactantes é veiculado pelo ar (feromônios).

Pesquisas recentes vêm mostrando coincidência na avaliação de beleza e cheiro nos humanos, ou seja, as pessoas avaliadas como mais belas são também avaliadas como tendo o odor mais atrativo. Os efeitos provocados pela percepção do odor têm sido atribuídos à ação de feromônios.

Os feromônios

Feromônios são sinais químicos veiculados pelo ar que modulam ou liberam mudanças fisiológicas e comportamentais em membros da mesma espécie. Esses compostos, em humanos, fazem parte da composição do suor, e são captados por um órgão acessório do sistema olfativo, mas que, no entanto, não tem a capacidade de perceber o cheiro, o órgão vomeronasal (OVN). O feromônio humano melhor estudado é a androsterona, um metabólito da testosterona responsável por alterações no ciclo menstrual feminino e pela libido. Sendo os feromônios parte da composição dos fluidos corporais e percebidos por um órgão acessório do sistema olfativo (OVN), os estudos feitos com influência dos feromônios na atratividade concentraram-se na avaliação do odor corporal.

Odor e idade

Como dito anteriormente, a idade do parceiro é uma das características que se mantêm constante em pesquisas interculturais. Esta distinção na preferência de idade é parte das táticas adotadas por homens e mulheres a fim de potencializar o retorno dos seus investimentos reprodutivos. Como já foi discutido, homens priorizam quantidade e buscam em suas parceiras sinais de saúde e fertilidade. Para atingir maior sucesso, concentram a preferência em mulheres cujas idades estejam próximas do seu maior potencial reprodutivo. Para as mulheres, a preferência fica por volta de homens 3 ou 4 anos mais velhos. A explicação para esse acontecimento pode existir no fato das mulheres amadurecerem alguns anos antes dos homens, ou então, como defende a teoria da seleção sexual, a forma de investimento que as fêmeas fazem na reprodução exige delas critérios mais rígidos na hora de escolher um parceiro, sendo assim, a idade se mostra um fator importante. Então surge a pergunta: Será que por meio do cheiro podemos identificar a faixa etária de um parceiro em potencial? E se podemos, essa preferência é coincidente com nossa preferência (que foi relatada previamente)?

Com o objetivo de responder a esses questionamentos, um estudo foi realizado com estudantes universitários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de dezembro de 2006 a agosto de 2007. Esse estudo revelou que homens têm uma baixa discriminação quando avaliam o odor corporal de possíveis parceiras sexuais e mulheres apresentam um sistema eficiente de discriminação da idade pelo odor corporal.

Supomos que a baixa discriminação de odor masculina pode ser um reflexo da baixa seletividade na escolha, o que lhe concede um maior leque de opções na hora de selecionar uma parceira. No entanto, a estratégia masculina não é linear. Embora eles estejam abertos a se relacionarem com mulheres de idades variando de mais novas a signifi- cantemente mais velhas, supondo que eles tenham de optar, o farão em favor de mulheres que estão em seu maior vigor reprodutivo - ou seja, por volta dos 20 anos - conforme foi demonstrado em nossos resultados pela diferença entre a avaliação de homens com e sem parceira. Se comparado às mulheres, homens têm baixo custo ao perderem células germinativas, pois estas poderão ser repostas quase que imediatamente, já que sua produção é contínua e seu investimento na prole é indireto, sendo até passível de abandono. Estas características permitem ao homem ter um maior número de parceiras sem ter que se preocupar muito com qualidade, tornando assim desnecessária a manutenção de um sofisticado sistema de diferenciação de idade pelo odor.

Alguns estudos têm encontrado que o cheiro corporal para mulheres é mais importante na escolha de um parceiro do que a aparência ou atratividade, e as mulheres percebem como mais atrativos os machos com demonstrações de dominância que são coincidentes com maiores níveis de andrógenos circulantes no organismo. O odor seria, portanto, um sinal tão confiável, quanto à qualidade de um parceiro, quanto à percepção de simetria, e mais, estes dois sinais estariam associados.

No caso das mulheres, há um custo muito mais elevado na reprodução, em que as perdas não são recuperáveis, a seleção de um bom parceiro é de vital importância na sua estratégia reprodutiva. Um sistema de discriminação eficiente permite que haja uma concordância entre a idade relatada como preferida e a avaliação do odor de determinada faixa etária. Existe também outra sinalização, que em vez de indicar um bom parceiro pela atratividade, indica um parceiro pobre por meio da intensidade, sendo estas duas variáveis negativamente correlacionadas. Aqui no nosso experimento, com mulheres em idade média de 21,3 anos, foi relatado que havia preferência por idades de parceiros em potencial em torno de 3 ou 4 anos mais velhos. Nossos resultados mostraram a concordância da idade relatada como preferida e as avaliações de atratividade do odor.

A Psicologia Evolucionista vem demonstrando que, diferente da sabedoria popular, nossas tendências de comportamento existem como proteção aos nossos investimentos reprodutivos e manutenção de nossa descendência. Visto isto, é necessário repensarmos as acusações constantes de “interesseiras” e “promíscuos”, mas também não é justifi- cável agirmos com falta de caráter e recorrermos às teorias evolucionistas para nos excluirmos de culpa. Pensar e agir de maneira a respeitar o próximo é e sempre foi a escolha mais correta.

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